07 novembro, 2006
Cecília Meireles
Canção
Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
105 anos de nascimento de Cecília Meireles - Ela nasceu em 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro. Foi poetisa, professora, pedagoga e jornalista. Começou a escrever poesia aos 9 anos de idade e tornou-se professora pública aos 16. Dois anos depois iniciou sua carreira literária com a publicação de Espectros (1919), uma coleção de sonetos simbolistas. Sua poesia lírica e altamente personalista, freqüentemente simples na forma mas contendo imagens e simbolismos complexos, deu a ela importante posição na literatura brasileira do século XX.
Entre 1925 e 1939 dedicou-se à sua carreira docente publicando vários livros infantis e fundando, em 1934 a Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro (a primeira biblioteca infantil do país). A partir deste ano ensinou literatura brasileira em Portugal (Lisboa e Coimbra) e em 1936 foi nomeada para a UFRJ, recém-fundada.
Desenho de Apard Szénes
Cecília reaparece no cenário poético após 14 anos de silêncio com Viagem (1939), considerado um marco de maturidade e individualidade na sua obra: recebeu o prêmio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras. Daí em diante dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente até a sua morte, de cancer, em 9 de novembro de 1964. Vários de seus livros são inspirados nas muitas viagens que fez e absorveu do contato com gente, costumes e idiomas diferentes matéria de melhor compreensão da vida e da humanidade. Cecília era exatamente o oposto do estereótipo que carrega um poeta. Não fumava, não jogava e nem bebia. Seguia à risca uma dieta macrobiótica. Dormia e acordava cedo, a tempo de fazer o café da manhã, sempre com waffles fresquinhos molhados no mel.
Escreveu também em prosa, dedicando-se a assuntos pedagógicos e folclóricos. E, produziu prosa lírica, com temas versando sobre sua infância, suas viagens e crônicas circunstanciais.
Cecília casou-se duas vezes. Do primeiro casamento teve três filhas, Maria Matilde, Maria Elvira e Maria Fernanda, que é atriz de cinema, teatro e tv, fez algumas novelas na Globo. Eu tive o prazer de assistí-la, junto de Rubens Del Falco, em uma peça de teatro sobre a inconfidência mineira "Romanceiro da Inconfidência" de cecília Meireles, aqui em Santa Maria, quando eu era adolescente.
Fonte aqui. Mais sobre ela.
Desencontros - Numa das viagens a Portugal, em 1935, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.
*Este poste faz parte da blogagem coletiva em homenagem a Cecília Meireles. Boa terça a todos!